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Em Marília, FFC atua fortemente em benefício da formação de recursos humanos, da assistência em saúde e da pesquisa com impacto social

Incentivo à investigação científica no câmpus da Unesp em Marília começa antes do ingresso do estudante na graduação, com reflexos diretos no ensino e na qualidade de vida dos habitantes da região

Por: Redação
16/06/2025 às 20h30
Em Marília, FFC atua fortemente em benefício da formação de recursos humanos, da assistência em saúde e da pesquisa com impacto social
Eliete Soares / ACI Unesp

O centro-oeste paulista é profundamente marcado pelo setor agropecuário, que tem sido um dos principais motores do desenvolvimento econômico regional, influenciando diretamente a produção de conhecimento e a cultura local. Um dos municípios mais populosos da região, com 237 mil habitantes, Marília não é uma exceção à regra, tanto que já recebeu o título de "Capital do Alimento". Nesse cenário, a presença da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Unesp no município desempenha um papel fundamental ao equilibrar essa dinâmica, investindo na formação de profissionais e promovendo pesquisas nas áreas de humanidades e da saúde em um território marcado pelas ciências agrárias.

Fundada no final dos anos 1950 como parte de uma política estadual de interiorização dos centros de pesquisa e ensino, a instituição foi incorporada à Unesp na criação da Universidade, em 1976, recebendo o nome de Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC). Atualmente, a unidade é um expoente na formação de profissionais e na produção de conhecimento nas áreas de Ciências Humanas e de Saúde. O câmpus abriga seis cursos de graduação na área de humanidades: Filosofia, Pedagogia, Ciências Sociais, Relações Internacionais, Arquivologia e Biblioteconomia. Na área de Ciências Biológicas, o câmpus oferece três graduações: Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia.

Uma das principais estratégias da unidade para o fortalecimento do ensino em humanidades é estimular a pesquisa em diferentes níveis de formação. Além do desenvolvimento de projetos de investigação de alunos de graduação e pós-graduação, a FFC também trabalha na introdução à metodologia científica junto aos alunos do ensino médio. A ideia é que, ao incentivar a produção científica desde cedo, a unidade crie um ambiente acadêmico voltado à investigação, que impacta positivamente o ensino e que se fortalece ao longo da trajetória dos estudantes. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foram oferecidas dezenas bolsas a estudantes do ensino médio por meio do programa PIBIC Júnior.

Esse incentivo à pesquisa se fortalece na graduação, com os estudantes sendo incentivados a produzir pesquisas com ou sem bolsas, por meio de projetos de iniciação científica. Na pós-graduação, esse compromisso se reflete nos cinco programas de pós-graduação oferecidos na unidade, com destaque para o Programa em Educação, avaliado com nota 6 pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), e o Programa em Ciências da Informação, único no Brasil com conceito 7. Na avaliação da Capes, as notas 6 e 7 indicam que um programa de pós-graduação tem desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência.

Para a diretora da unidade, professora Ana Clara Bortoleto Nery, essas conquistas só são possíveis graças ao incentivo à pesquisa realizado desde o ingresso do estudante na graduação. "Nós só temos programas de pós-graduação consolidados porque temos uma graduação forte, sobretudo na área de pesquisa. Há, portanto, dois lados nessa estratégia: a busca dos estudantes e o trabalho dos docentes junto a esses alunos, para que se engajem nos projetos de pesquisa. Isso é muito valorizado pela instituição", afirma a diretora.

Internacionalização

Ao passo que fomenta a pesquisa no câmpus, a FFC também tem um compromisso sólido com a internacionalização, o nome dado às ações da universidade que promovem experiências internacionais para a comunidade universitária. Esse compromisso é especialmente presente na pós-graduação. Segundo a direção da FFC, há uma oferta significativa de bolsas de doutorado, o que permite que um número grande de estudantes e pesquisadores vivenciem experiências acadêmicas internacionais. Além disso, a universidade recebe estudantes estrangeiros de diversos países, como Colômbia, Chile, Argentina, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

"Na pós-graduação, contamos com parcerias estratégicas. Oferecemos, por exemplo, um programa de doutorado em colaboração com uma universidade moçambicana e um mestrado em parceria com uma instituição de Angola, cujas aulas são ministradas nesses países com o nosso suporte acadêmico", explica Luciana Biondo Gomes, assessora da direção.

Essa integração global fortalece a inserção de pesquisadores em redes nacionais e internacionais, ampliando o impacto das pesquisas desenvolvidas na unidade. "Temos muitos alunos que realizam doutorado sanduíche em universidades estrangeiras, principalmente na Europa. Esse intercâmbio contribui diretamente para a qualificação dos nossos programas de pós-graduação", acrescenta Biondo.

O Programa de Pós Graduação San Tiago Dantas é um exemplo claro desse compromisso. Vinculado ao curso de Relações Internacionais do câmpus de Marília, o programa hoje é conduzido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destacando-se pelo engajamento de seus alunos com diversas universidades estrangeiras. Além disso, o câmpus de Marília foi a primeira sede do Instituto Confúcio no Brasil. O centro, voltado para a disseminação da cultura e do idioma chinês, estabeleceu sua primeira unidade no Brasil em 2008, por meio de um convênio com a Unesp.

As atividades da FFC vão além da excelência acadêmica, consolidando-se como um espaço de formação cidadã e de reflexão sobre questões sociais. Os cursos da unidade na área de humanidades desempenham um papel fundamental no estímulo ao interesse da comunidade pelas ciências humanas e seu impacto na sociedade. Essa tradição também se reflete na produção e disseminação do conhecimento científico, representada pelo Portal de Periódicos Eletrônicos da FFC, que atualmente reúne 16 periódicos. A iniciativa teve início em 1974, com a criação de um dos primeiros periódicos da instituição, marcando um compromisso duradouro com a pesquisa e a divulgação científica.

Saúde mira população local

Os cursos na área de Ciências Biológicas não ficam atrás na produção de ciência e no impacto junto à sociedade. As diferentes graduações oferecidas na área da Saúde possuem uma forte conexão com a comunidade local, algo que pode ser observado mais claramente na atuação do Centro de Estudos da Educação e da Saúde (CEES) "Dr. Heraldo Lorena Guida". O centro realiza cerca de 40 mil atendimentos anuais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), recebendo pacientes de Marília e região nas áreas de fonoaudiologia, fisioterapia e terapias para pessoas com questões relacionadas à cognição, comunicação, desenvolvimento e educação de indivíduos com necessidades especiais.

No CEES, alunos de graduação e pós-graduação têm a oportunidade de participar ativamente do atendimento ao público, seja por meio de estágios ou envolvidos em projetos de pesquisas aplicadas. Além disso, a unidade também é um Centro Especializado em Reabilitação (CER), atuando como ponto de referência para a Rede de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência. Sua finalidade é realizar diagnósticos e tratamentos de pessoas com deficiência, além de promover a concessão, adaptação e manutenção de dispositivos de tecnologia assistiva.

Na área da saúde, inúmeras pesquisas têm gerado avanços importantes no conhecimento e na prática clínica. Entre elas, o trabalho de Célia Giacheti, professora titular do Departamento de Fonoaudiologia da unidade e pró-reitora de graduação da Unesp, trouxe contribuições valiosas para a melhor compreensão sobre os efeitos do vírus Zika em crianças, especialmente nos casos de microcefalia. Sua pesquisa integrou o projeto intitulado "Habilidades do Desenvolvimento em Crianças com a Síndrome Zika Congênita (SZC)", realizado entre maio e dezembro de 2019 com o objetivo de investigar o neurodesenvolvimento de crianças com SZC no estado do Ceará. Esse trabalho trouxe avanços no entendimento do fenótipo da síndrome.

A docente também é amplamente reconhecida por suas contribuições na área de diagnóstico em fonoaudiologia. "A professora Célia é uma expoente na área de diagnóstico em fonoaudiologia. Ela é responsável pela descoberta e descrição de uma síndrome que passou a levar o nome dela", afirma a vice-diretora da FFC, professora Cristiane Rodrigues Pedroni. A Síndrome de Giacheti, identificada pela professora Célia e sua equipe em 2007, é um transtorno genético caracterizado por características físicas como habitus marfanoide, hipotelorismo (olhos próximos), rosto comprido e estatura alta, além de dificuldades específicas de linguagem e aprendizagem. O estudo inicial publicado pela docente de Marília descreveu a síndrome em uma família brasileira.

A Faculdade de Filosofia e Ciências é um valioso recurso para o fortalecimento das ciências humanas e da qualidade de vida no interior paulista. Com uma tradição marcada pelo pensamento crítico, pela inclusão e pelo compromisso social, a FFC se estabeleceu como um espaço de construção do conhecimento que dialoga diretamente com a comunidade. Esse legado se reflete, inclusive, no mural da biblioteca, nomeado como "Inclusão, Diversidade e Literatura: um encontro necessário" e assinado pelo artista Eduardo Kobra, no qual a arte simboliza o impacto das humanidades na transformação da sociedade.

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