A segunda presidenta da Apeoesp, a deputada estadual Professora Bebel (PT) participou na noite desta última segunda-feira, 9 de junho, de audiência pública em defesa da educação e dos cursinhos populares, proposto pela vereadora Luna Zarattini (PT), que se converteu em um ato contra o desmonte das políticas educacionais das administrações do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e do governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vem sendo denunciado pela parlamentar. Na audiência pública, realizada na Câmara Municipal de São Paulo, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou que todos os 393 cursinhos populares que se inscreveram na chamada da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP) serão financiados, e não apenas os 130 previstos inicialmente.
“Frei David me cobrava, eu me lembro bem que andando por vários lugares do Brasil, inclusive aqui em São Paulo, ele falava muito dos cursinhos populares, que foi uma luta de vocês, uma conquista do movimento popular”, lembrou o ministro, em referência ao religioso pioneiro na fundação do primeiro pré-vestibular comunitário no Brasil, destinado a estudantes negros e de baixa renda. “Eu dizia: vamos pensar em ajudar esses cursinhos populares, que às vezes passam dificuldades, às vezes as pessoas que resistiram para garantir oportunidade para quem já concluiu o ensino médio e não tem dinheiro para pagar um cursinho e tem oportunidade para ingressar no ensino superior”, disse Santana, em sua fala durante o ato.
Antes do anúncio do ministro, no entanto, alunos, professores e outros envolvidos em cursinhos populares em São Paulo se dividiram entre a celebração da política e a cobrança por mais diálogo com quem está na ponta, dentro das salas de aula e à frente desses espaços de educação. Para a deputada estadual Professora Bebel, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, assim como o governador Tarcísio de Freitas, são ultraliberais e querem privatizar as escolas. “Coisa que nós, do campo progressista, não permitiremos! Juntos seguimos em defesa da educação pública de qualidade e inclusiva para os filhos e filhas da classe trabalhadora”, destaca.
Em meio aos depoimentos sobre os cursinhos, as políticas locais de educação acabaram sendo o foco da noite. Joel Lira Castelo Branco, educador no Cursinho Popular Padre Ticão, que fica em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, pontuou que a plataformização do ensino faz com que os alunos cheguem às portas do Enem e de outros vestibulares sem base para enfrentar as provas. “Os professores estão exauridos, nós não temos mais direito de lecionar. Quando eu recebo os meus estudantes na escola, eu vejo como que a defasagem é grande, porque são mais de 12 plataformas [usadas na rede estadual]”, afirmou. “O meu aluno só sabe olhar para tela, ele cansa e ele não tem exemplo as principais matérias que vão ser cobradas nos vestibulares, como biologia, química, filosofia, sociologia. São matérias totalmente esquecidas”.
Em sua fala no púlpito, Joel lembrou dos casos de morte de professores em escolas. Dois casos semelhantes foram registrados na rede estadual do Paraná no fim de maio. “Tem professores morrendo na sala de aula. Não aguentamos mais!”, denunciou Joel. Na plateia, um estudante segurava o cartaz com os dizeres “Plataforma não é educação”. O discurso contra o excesso de plataformas digitais, implementado nos últimos anos na rede pública de ensino, entrou no debate.
Chico Gretter, da Associação de Professores/as de Filosofia e Filósofos/as do Estado de São Paulo (Aproffesp), atentou para o problema. “Não sou contra a tecnologia, mas há uma imposição de plataformas que está tirando autonomia do professor para planejar, para ministrar a aula. Isso é um crime que estão acontecendo. Nem a ditadura militar fez isso”, disse. Na plateia, ele puxou o coro: “Não às plataformas” e recebeu apoio de todo o auditório, que continuou o protesto. “Essa destruição do currículo é justamente para depois descartar os professores”, alertou.