A constante busca pelo conhecimento e pela inovação presente no câmpus da Unesp em Guaratinguetá é um legado que remonta aos primeiros movimentos para a criação da unidade no município. Ainda nos anos 1960, jovens secundaristas, movidos pelo desejo de transformação, mobilizaram-se para trazer uma instituição de ensino superior à cidade. Hoje, mais de meio século depois, a Faculdade de Engenharia e Ciências (FEG) mantém esse espírito pioneiro, impulsionando pesquisas de ponta e formando milhares de profissionais que têm se destacado nas empresas mais cobiçadas do Brasil e do exterior.
Desde a sua criação, a unidade já formou quase 7.000 profissionais e, atualmente, oferece sete cursos de graduação: Engenharia Mecânica, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia de Produção, Engenharia de Materiais, Licenciatura e Bacharelado em Física e Licenciatura em Matemática.
De acordo com a diretora técnica acadêmica da FEG, Regina Célia Ferreira da Silva Souza, o reconhecimento da qualidade dos cursos oferecidos em Guaratinguetá se reflete nas avaliações realizadas periodicamente pelo Ministério da Educação (MEC). “A Engenharia Elétrica foi o curso que mais obteve notas máximas no câmpus, mantendo esse desempenho por cinco anos seguidos. Outros cursos, como Engenharia Mecânica, Matemática e Licenciatura em Física, também já alcançaram avaliações muito positivas, atingindo nota 5 no Enade”, destaca. Realizado pelo governo federal, o Enade é hoje um dos principais indicadores da qualidade dos cursos de graduação no Brasil. As notas variam de 1 a 5, sendo 5 o conceito mais alto.
No campo do ensino e da pesquisa, o câmpus de Guaratinguetá oferece duas opções para a pós-graduação: um programa em Engenharia, abrange as áreas de Mecânica, Materiais, Produção e Aeroespacial, e um programa em Física e Astronomia. Juntos, esses dois programas de pós-graduação já formaram 1.100 mestres e 457 doutores, além de produzirem centenas de artigos científicos.
As pesquisas produzidas dentro desses programas abrangem áreas como recursos hídricos e hidráulica aplicada, eficiência energética, bioenergia, combustão e captura de carbono, geotecnia, desenvolvimento e processamento de materiais, astrogeologia, entre outras. Nesse último, inclusive, alguns professores da FEG se destacam por terem descoberto novos asteroides e concedido nomes oficiais a esses corpos celestes, ampliando a contribuição da instituição para a ciência espacial.
Um ponto de destaque da FEG é a excelência do corpo docente, uma característica que se reflete nos principais rankings acadêmicos mundiais. No ano passado, um levantamento produzido por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, listou os pesquisadores mais influentes do mundo, considerando, entre outros indicadores, o impacto das pesquisas e o número de citações dos artigos científicos. Na ocasião, quatro professores da FEG figuraram entre os mais influentes do mundo.
Esse reconhecimento da ciência desenvolvida na FEG guarda relação com a tradição da unidade em incentivar o engajamento dos estudantes na produção científica desde os primeiros anos da graduação. Anualmente, os alunos da unidade marcam forte presença no Congresso de Iniciação Científica (CIC) da Unesp. Na última edição do evento, realizada em outubro de 2024, os estudantes da FEG apresentaram 136 trabalhos.
Para o diretor da unidade, o professor do Departamento de Física Álvaro de Souza Dutra, a capacidade de adaptação é um dos principais trunfos da instituição. “Nosso desafio não é apenas oferecer ensino de qualidade, mas garantir que ele seja relevante para o mundo real. Queremos que nossos alunos saiam daqui preparados para encarar qualquer desafio, seja no mercado ou na pesquisa acadêmica”, afirma.
Aproximação com a comunidade
Desde 2023, um novo Projeto Político-Pedagógico (PPP) elaborado pela Unesp reforçou a importância das atividades extensionistas desenvolvidas pela Universidade. Alinhado a esse propósito, a FEG conta atualmente com mais de 50 projetos de extensão conectando alunos e pesquisadores aos desafios reais da sociedade. Os projetos envolvem desde ações para inclusão social e promoção da qualidade de vida, passando por iniciativas sustentáveis e ações de iniciação científica e de reforço acadêmico junto às escolas de ensino médio da região.
Segundo o vice-diretor da unidade, o professor Manoel Cleber de Sampaio Alves, do Departamento de Materiais e Tecnologias, a extensão não deve ser vista como uma via de mão única, mas sim um diálogo contínuo entre a instituição e a comunidade ao redor. “A extensão universitária é o caminho pelo qual a faculdade se conecta com a sociedade, aliando ensino e pesquisa para gerar conhecimento e impacto real. Levamos conhecimento para a sociedade e, ao mesmo tempo, aprendemos com as demandas reais que nos são apresentadas”, afirma o vice-diretor.
Entre os principais projetos de extensão desenvolvidos pela FEG, destacam-se os cursinhos gratuitos preparatórios para o vestibular e as atividades voltadas para idosos, a chamada "terceira idade". O projeto "Do Tabuleiro Para a Vida", por exemplo, explora o potencial dos jogos de tabuleiro modernos como uma ferramenta educacional para desenvolver habilidades cognitivas e sociais em pessoas de todas as idades, principalmente crianças, adolescentes e idosos.
Outro projeto, batizado de "Ponto Iluminado", surgiu com a ideia de criar o primeiro ponto de ônibus movido à energia fotovoltaica do Brasil e hoje se expandiu a outras áreas relacionadas à sustentabilidade, como gestão de resíduos, eficiência energética e uso racional da água.
A FEG também promove eventos para aproximar a comunidade, como o Universidade Portas Abertas, que costuma ocorrer todos os anos em maio, e a Semana de Ciência e Tecnologia, realizada no segundo semestre do ano letivo. Além disso, em 2025, a direção da instituição pretende retomar um antigo projeto, o FEG na Praça, que leva projetos acadêmicos desenvolvidos na Universidade para espaços públicos, fortalecendo o vínculo com a população.
Outro marco na relação universidade-sociedade foi a inauguração, em novembro de 2024, do Centro de Inovação de Guaratinguetá, fruto de uma parceria entre a FEG, a prefeitura do município, a Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp) e a Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Guaratinguetá. O espaço, localizado em uma das entradas do campus, busca conectar a universidade ao setor produtivo, estimulando a criação de startups e promovendo a inovação.
Novo perfil de aluno
O perfil dos alunos da FEG mudou nos últimos anos e hoje 51% dos estudantes matriculados na unidade têm renda per capita de até dois salários mínimos. A mudança no perfil socioeconômico, ao mesmo tempo que é bem vinda, também envolve desafios por parte da direção para garantir a permanência desses alunos na universidade.
Nesse sentido, a FEG, juntamente com a administração central da Unesp, tem tomado medidas para auxiliar esses estudantes, como a oferta de moradia estudantil, bolsas de auxílio socioeconômico e cestas básicas. “Muitos alunos chegam com desafios que vão além da sala de aula. Nosso papel é criar mecanismos para que eles não apenas entrem na universidade, mas consigam conclui-la”, explica o vice-diretor.
Outra ação que tem possibilitado a permanência desses alunos no curso é a oferta de um Programa de Mentoria. “Essa iniciativa conecta alunos ingressantes a mentores, que podem ser professores ou alunos veteranos, para auxiliá-los na adaptação ao ambiente universitário, oferecendo orientações sobre o curso, técnicas de estudo e desafios da vida acadêmica”, explica a diretora técnica acadêmica.
Quanto à infraestrutura para receber esses estudantes, a FEG oferece 54 vagas na residência estudantil do câmpus, além de um quarto exclusivo para pessoas com deficiência, que atende as especificidades desse público. Na mesma linha, a direção da unidade busca aprimorar o suporte alimentar, substituindo a distribuição de cestas básicas que são atualmente oferecidas por refeições prontas. Devido aos desafios para estabelecer um restaurante universitário no câmpus, a diretoria está avaliando a contratação da alimentação subsidiada. Além disso, há planos para ampliar a cantina atual para que ela possa futuramente atender essa necessidade.
“As ações estão alinhadas a um movimento maior dentro de toda a Unesp e às diretrizes da recém-criada Coordenadoria de Segurança Alimentar e Nutricional (CSans, vinculada à Proade). A ideia é buscar soluções mais eficientes para garantir segurança alimentar dentro do ambiente acadêmico”, reforça o diretor Dutra.
Nos últimos anos, a FEG tem ampliado as ações de inclusão com políticas voltadas para neurodivergentes, pessoas trans e estudantes com deficiência, garantindo adaptações pedagógicas conforme necessário. A atual gestão tem trabalhado também com ações de prevenção e conscientização sobre violências, tais como trotes e assédios, contando com o apoio da Comissão de Combate ao Trote e com a criação da Comissão de Combate ao Assédio.
Adaptação às mudanças climáticas
A infraestrutura da FEG passou por diversas transformações ao longo dos anos. O câmpus, que começou em um pequeno espaço no centro da cidade, expandiu-se para atender às demandas de ensino, pesquisa e permanência estudantil.
Entre as prioridades da atual gestão está a construção do Centro de Convivência Estudantil, que já está em fase de licitação. O espaço oferecerá áreas para descanso, alimentação e interação entre os estudantes. “Esse projeto é uma luta de três anos e terá um impacto enorme na permanência estudantil”, destaca o diretor, que também planeja reformas na moradia estudantil e na biblioteca, que dependem do alinhamento com a administração central da Universidade.
Outro desafio é a modernização da infraestrutura elétrica do campus, que já não comporta a demanda crescente por equipamentos. Paralelamente, a maior frequência (e intensidade) das ondas de calor e de chuvas intensas tem exigido melhorias nos sistemas de ventilação e climatização das salas de aula.
A revitalização do “FEGão”, o ginásio esportivo do câmpus, é uma das grandes expectativas da gestão. A reforma visa adequar o espaço às normas de segurança e acessibilidade, permitindo a reabertura para atividades acadêmicas, esportivas e culturais. “Nosso objetivo é recuperar esse espaço, tornando-o novamente um ponto de encontro para a comunidade acadêmica e para a cidade”, diz o diretor.