A simpatia, como tudo o que pertence ao terreno espiritual e psicológico co, é invisível e intangível; porém, o que se vê e se palpa na realidade física é o que move a simpatia como agente de uma força que, por sua vez, obedece a uma lei.
Todos os seres humanos possuem um atributo que se chama simpatia e, na mesma proporção, um desatributo – chamemos assim – que se denomina antipatia. De cada um depende forjar sua vida alcançando a plenitude do atributo e a total eliminação do desatributo.
O culto da graça, ou seja, do conjunto das virtudes e qualidades boas que o homem possua, é o que constitui a melhor fonte de simpatia, pois nada embeleza tanto a alma como os traços característicos da nobreza de berço. Aqui devemos manifestar, por ser isto uma verdade inquestionável, e para satisfação de todos, que quem não procede dessa origem pode e deve cria-la para si, já que sempre há tempo de alcançar e obter pelo esforço, pela decisão e pela capacidade de estudo as mesmas vantagens dos que se viram favorecidos na infância.
A ninguém está vedado o conhecimento e, muito menos, a liberdade de obtê-lo. Assim, cada um pode construir seu edifício moral, onde são gera dos os grandes vínculos em virtude da simpatia que impregna todos os seus espaços, simpatia que atrai o semelhante e ao mesmo tempo lhe concede sua solicitude.
Na terra se acham dispersas, talvez para observação do homem, muitas existências: umas que infundem simpatia, e outras, repulsa. As primeiras são agradáveis à sua visão ou ao seu sentir, e o curioso é que todas elas lhe são úteis, ou, melhor dizendo, apresentam uma imensurável utilidade para a sua espécie. Quantos animais há que lhe são gratos apenas por seu aspecto, e quantos o são pelo único fato de lhe serem úteis, como as abelhas, por exemplo, que inspiram simpatia por serem laboriosas e fecundas. Temos, também, como dissemos, os que inspiram repulsa, tais como a hiena, o gambá, o javali, o sapo, a víbora e outros mais.
A respeito do sapo, há os que o conceituam como um animalzinho útil e o deixam estar em seus parques e jardins, pois, segundo eles, come os bichos daninhos. Não obstante, podemos observar que este antipático animal da família dos anfíbios, enquanto come um ou outro inseto, procria de tal forma que, no final, os que toleram sua companhia devem efetuar um verdadeiro massacre deles, para evitar danos maiores aos alicerces de suas casas, sob os quais costumam se alojar. O mesmo acontece com certos pensamentos que o homem aloja em sua mente, crendo serem inofensivos, e que logo depois obrigam a praticar pouco menos que operações cirúrgicas para extirpar suas proles, que ameaçam absorver a vitalidade de todos os demais pensamentos que ali se hospedam.
Esta última observação nos permite fazer uma discriminação entre a simpatia propriamente dita e as preferências que cada um possa ter por determinada pessoa ou ser vivo. No primeiro caso, a simpatia estabelece um vínculo afetivo que aumenta ou diminui segundo o volume dessa vinculação; no segundo, a preferência é privativa do espírito individual e pode ser prodigalizada à vontade, sem que seja necessário, para o caso, vinculação alguma.
Na Criação existem duas forças que oscilam alternadamente
numa luta constante: a de atração e a de repulsão.
No ser humano, a simpatia atrai e é, portanto, uma força ativa que atua nele como centro gerador do afeto, devendo estar regulada pela ação do critério, a fim de fazer possível a existência de um equilíbrio estável, não alterado pelas relações com o semelhante. A simpatia que um ser inspira a outro cobre a distância que o faria permanecer estranho a ele. A amizade nasce do afeto que a simpatia cria, pois esta, como dissemos, é o centro gerador do afeto. Da amizade nasce a confiança mútua, e é esta a que cimenta e dá vida aos grandes vínculos a que nos referimos.
Já se disse que a simpatia é um dom; nós a chamamos de atributo
e afirmamos que pode ser adquirida.
Porém, para que isso seja possível, necessariamente devem ser cumpridas as exigências que a simpatia impõe: possuir pensamentos benévolos e quantos propiciem as melhores qualidades.
Na vida de relacionamento, é preciso buscar o entendimento de maneira simpática e afetiva. Nisso a mente há de desempenhar um papel muito importante, pois são os pensamentos os que devem ir ao encontro da afinidade ou criá-la, na medida do possível, conciliando inteligentemente as diferenças que existam no pensar e no sentir. A afabilidade, os bons modos, o trato agradável, são disposições que promovem a consideração e a simpatia dos demais, assim como a intolerância, a irascibilidade, os maus modos, a linguagem áspera, promovem o contrário. Onde quer que a pessoa se encontre, deve fazer com que sua presença seja grata a todos, ou pelo menos à maioria, e isso sempre será conseguido por quem mais conheça a psicologia humana e tenha estudado a fundo suas reações e suas múltiplas variantes.
O errôneo conceito que geralmente existe acerca das atenções que o semelhante nos deve prodigalizar, enquanto deixamos de tê-las para com ele, é causa das mil situações molestas e incômodas que teremos de sofrer de pois, já que, sendo a simpatia a ponte de ouro que estendemos até seu coração e sua mente, e não sendo esta ponte nada impossível, devemos nos apressar para torná-la efetiva, a fim de que, por sua vez, a simpatia e o afeto que buscamos nos possam ser oferecidos através dela. O ruim é quando fazemos isso mal, ou quando só construímos a metade, para que os outros façam a sua parte; assim é como se truncam com frequência os melhores propósitos.
A simpatia é uma força que influi decididamente na vida humana; conforme seja o cultivo que dela se faça, serão os frutos a recolher para a realização dos esforços que tendem à perfeição
Extraído da Coletânea da Revista Logosofia, Tomo 2, pág 149
Carlos Bernardo Gonzalez Pecotche – Criador da Logosofia
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