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Esporotricose: subnotificação e mitos sobre a doença mascaram a realidade

Transmitida por fungos, a zoonose coloca os gatos no centro do debate. Entenda os riscos, mitos e como prevenir

Por: Redação
23/05/2025 às 07h00
Esporotricose: subnotificação e mitos sobre a doença mascaram a realidade
Vitor Zanfagnini

A esporotricose, uma micose profunda causada por fungos da família Sporothrix, avança pelo Brasil transformando-se em uma epidemia urbana. Antes restrita a áreas rurais, a doença agora assombra grandes centros, com gatos frequentemente associados à sua transmissão. Segundo a médica-veterinária e consultora da rede de farmácias de manipulação veterinária DrogaVET, Farah de Andrade: "Os gatos não são os vilões, mas sim as vítimas, que precisam de cuidado e proteção".

Classificada como zoonose, a infecção ocorre quando o fungo penetra camadas profundas da pele de humanos e animais, geralmente por meio de cortes ou arranhões. Em humanos, os sintomas variam de lesões cutâneas semelhantes a picadas de mosquito até formas graves, como a pulmonar, que pode ser confundida com tuberculose. Nos gatos, a esporotricose é ainda mais agressiva, com feridas ulceradas que evoluem rapidamente, podendo atingir o sistema linfático e órgãos internos.

Cenário alarmante: números em ascensão

Estados como Paraná, São Paulo e Pernambuco registraram aumentos exponenciais antes mesmo da notificação compulsória da doença. No Paraná, por exemplo, os casos humanos saltaram de 253, em 2022, para 853 em 2023. Entre os felinos, o crescimento foi ainda mais expressivo: de 1.412 para 3.290 no mesmo período.

Em São Paulo, 403 casos humanos foram confirmados até setembro de 2023, contra 388 no mesmo período do ano anterior. Já Pernambuco registrou 287 diagnósticos humanos em 2022 e 155 até outubro de 2023.

“No fim de janeiro deste ano, a esporotricose humana passou  a fazer parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória e deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o que nos dará, em um futuro próximo, uma perspectiva mais realista do avanço da doença. Esperamos que, com isso, iniciativas públicas e maior conscientização da população resultem em melhor controle da esporotricose”, comenta o médico-veterinário e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná, Dr. Adolfo Sasaki.

Gatos: vítimas, não vilões

A associação equivocada entre gatos e a transmissão da esporotricose tem levado a atitudes extremas, como o abandono e até o sacrifício desses animais. "Assim como ocorreu com os macacos durante a febre amarela em 2018, os gatos estão sendo injustamente culpados. Eles são vítimas da doença, não os responsáveis por sua disseminação", alerta a Dra. Farah.

O abandono de animais doentes, além de ser crime de maus-tratos, agrava a situação. "Ao descartar um gato com esporotricose, o responsável não só condena o animal, mas também cria novos focos da doença, contaminando o ambiente e colocando outras vidas em risco", explica Sasaki. Recentemente, o CRMV-PR promoveu uma ampla campanha de conscientização da população sobre a importância de não deixar os gatos com acesso às ruas, além da responsabilidade com o tratamento e a higiene ambiental.

Sinais clínicos e prevenção

Em humanos, os sintomas incluem feridas na pele, febre, dor e, em casos graves, dificuldades respiratórias. Nos gatos, as lesões ulceradas são o primeiro sinal, seguidas de secreções, falta de apetite e letargia. "Quanto mais rápido o diagnóstico, maiores as chances de cura. A esporotricose tem taxas de cura superiores a 90% quando tratada adequadamente", reforça Farah.

As principais medidas preventivas são:

Manter os animais dentro de casa;

Realizar passeios apenas com supervisão;

Castrar os pets para evitar fugas e contato com outros animais;

Utilizar luvas ao manipular terra, plantas ou animais suspeitos;

Isolar e desinfetar diariamente o ambiente de animais em tratamento.

Tratamento: alternativas para facilitar a adesão

A conscientização sobre a doença, o diagnóstico precoce e o tratamento correto são fundamentais para frear o avanço da esporotricose. “Existe tratamento para esporotricose, porém, ele é longo e os felinos não costumam aceitar a administração de remédios facilmente. Por isso, a manipulação de medicamentos é uma excelente alternativa. Fórmulas com flavorizantes, como salsicha, linguiça  ou frango e formas farmacêuticas, como pasta oral ou molho, facilitam a adesão ao tratamento”. A DrogaVET manipula antifúngicos como itraconazol, iodeto de potássio, cetaconazol, terbinafina e fluconazol e ainda pode combinar fórmulas com silimarina ou silibin (hepatoprotetores). Fármacos de uso tópico também podem ser prescritos e manipulados  para controle das lesões.

A doença não é uma sentença de morte, mas exige atenção e ação coletiva. Enquanto os números crescem, a desinformação e o abandono de animais continuam a alimentar a epidemia. Combater a doença requer união, educação e, acima de tudo, responsabilidade. 

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