Uma das três unidades da Unesp localizadas no município de Bauru, a Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) tem se firmado como uma referência no ensino superior brasileiro para a formação profissional ligada à economia criativa. A unidade oferece seis cursos com ampla aderência à inovação, produção cultural e valorização do conhecimento: Jornalismo, Rádio, TV e Internet, Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais e Design.
A economia criativa se baseia no uso da criatividade, do conhecimento e da inovação para a produção de bens e serviços. Atual diretor da unidade, o professor Juarez Tadeu de Paula Xavier argumenta que esse setor deve se tornar um dos motores da economia deste século, a exemplo do que foi o petróleo no século passado. E os cursos da FAAC dialogam diretamente com as suas demandas. “No século 21, a inteligência, a capacidade de organização, o pensamento crítico, a visão crítica das artes e da tecnologia vão se tornar fatores fundamentais para a invenção, a criação e a inovação tecnológica”, afirma o docente.
Ao combinar cultura, arte, ciência e tecnologia para criar produtos e soluções que geram valor econômico, a economia criativa também colabora para a promoção da diversidade cultural e o incentivo ao desenvolvimento sustentável. A sintonia entre cursos e disciplinas oferecidas pela unidade é um reflexo da necessidade crescente de profissionais que não apenas dominem as técnicas de suas áreas, mas também saibam aplicá-las de variadas formas para transformar a realidade ao seu redor. “Você não pode ter uma boa discussão e reflexão sobre o espaço urbano, por exemplo, se você não tiver a comunicação, se você não tiver o design, a usabilidade, a informação, o debate ou a organização de conteúdos informativos”, afirma Xavier. “Acho que existe uma sinergia interna nos cursos da FAAC que faz com que haja trânsito de professores, trânsito de disciplina e trânsito de elementos comuns, de debate, reflexão e discussão”.
Formação integral e oportunidades para a região
Outro aspecto fundamental da FAAC é seu compromisso com a formação integral dos estudantes, tanto da graduação quanto da pós-graduação. Os alunos são envolvidos em todo o processo de captação, edição e análise do impacto dos conteúdos informativos, criativos e culturais na sociedade. Segundo o diretor, esse preparo repercute diretamente na sociedade e forma estudantes preparados para os desafios do mercado de trabalho e do mundo contemporâneo. “Você tem um impacto social, um impacto econômico, tecnológico, político, étnico e racial imediato, com elementos importantes para serem discutidos, tornando os nossos pesquisadores muito mais atentos e propensos a analisar esse cenário complexo do século XXI”, argumenta Xavier.
A presença da FAAC no município de Bauru, localizado em uma região central do estado de São Paulo, colabora para a democratização do ensino superior ao facilitar o acesso de estudantes que talvez tivessem dificuldades financeiras para cursar a graduação em uma capital ou outra cidade de porte maior. “O nosso corpo discente é formado por muitas pessoas da região. Temos estudantes que são de Bauru mesmo, mas também de outras cidades e regiões. Esses alunos muitas vezes não teriam como pensar em fazer uma faculdade em outro lugar”, explica Tarcila Lima da Costa, vice-diretora da faculdade.
De acordo com Costa, o custo de vida mais acessível é um atrativo extra para quem deseja uma formação de excelência sem os desafios financeiros enfrentados nos grandes centros urbanos. “A universidade pública hoje não só oferece muito mais em recurso, mas também atende a uma política de acesso mais respeitosa, mais igualitária, com recursos que realmente fundamentam uma formação mais instigadora. Esses são dois pontos principais: o fato de estar no centro do estado e o fato dela ser pública”, afirma.
A FAAC também desempenha um papel essencial na valorização das ciências humanas. Em um cenário de desvalorização dessas áreas no Brasil, a unidade da Unesp reafirma sua importância na formação do cidadão e na construção de uma sociedade mais crítica e reflexiva. “Os cursos fazem parte de uma estrutura de existência humana que é evidente, mas que ao mesmo tempo é impalpável”, explica a vice-diretora. “Quando falamos da comunicação, da arquitetura, da arte, do design, do jornalismo, das relações públicas, estes são todos cursos que tratam de uma coisa quase impalpável, que é a existência humana”.
Neste sentido, Costa reforça o papel transformador das ciências humanas e sua relevância para a sociedade, e os cursos da FAAC, afirma a vice-diretora, formam profissionais capazes de desenvolver habilidades de análise, interpretação e comunicação fundamentais para compreensão dos fenômenos sociais e culturais.
Extensão universitária em diálogo com a sociedade
Além do ensino, a FAAC também se destaca pelo compromisso com a população externa à Unesp, por meio da extensão universitária. Em Bauru e região, a unidade desenvolve diversos projetos em parceria com a comunidade que permite aos alunos saírem da sala de aula e aplicarem seus conhecimentos no mundo real. Esses projetos são uma das formas de a universidade retornar o investimento feito pela sociedade, garantindo que o conhecimento produzido na instituição seja compartilhado de forma justa e responsável.
Em linha com os fundamentos da universidade pública brasileira, a proposta da FAAC é unir ensino, pesquisa e extensão para trazer soluções práticas para problemas enfrentados pela comunidade local em diversas esferas. Muitos dos projetos abordam temas fundamentais, como sustentabilidade e questões étnicas, raciais, culturais e sociais, demonstrando o compromisso da faculdade com a inclusão e a diversidade.
“Hoje, é necessário que se faça um diálogo com a sociedade, e que esse diálogo se transforme em ação política para que você possa desenvolver ação de extensão. Isso faz com que o estudante, além de ter uma concepção teórica, técnica, ética e deontológica, tenha também uma dimensão cidadã da responsabilidade política que ele tem na universidade pública”, diz Xavier. “Nós pretendemos agora, nessa nova gestão, rever o plano local de extensão. A nossa ideia é que o plano seja mais compacto, mas que atenda de forma muito evidente toda a realidade política social. O plano vai ser baseado num único ODS, o ODS 11, que fala sobre comunidades e cidades sustentáveis”. Criados em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) têm como objetivo orientar as nações para elaboraçao de ações que promovam um futuro mais equitativo, justo e sustentável.
O compromisso mencionado pelo diretor se reflete também na atuação da Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI), que trabalha para garantir um ambiente acadêmico mais democrático e acessível a todos, a partir, por exemplo, da oferta de bolsas e auxílios para a permanência estudantil. Desde a adoção de políticas de ação afirmativa na Unesp, ainda em 2014, a FAAC gradativamente foi se tornando um microcosmo dessa transformação, refletindo a crescente diversidade da educação superior no Brasil.
Para o diretor, o câmpus de Bauru é um exemplo de como a universidade pública tem se tornado cada vez mais inclusiva: “A FAAC era um universo praticamente masculino, e hoje somos um universo mais feminino. Éramos um universo eminentemente branco da classe média brasileira, hoje temos cerca de 30% de pretos e pardos. Há uma diversidade maior do ponto de vista humano. Nós tínhamos uma das mais altas rendas per capita da Unesp, hoje representamos melhor a realidade política social brasileira. Tínhamos poucos alunos da escola pública, hoje temos bastante. Tínhamos poucos alunos de Bauru e região, hoje temos mais”.
A mudança no perfil, ao incluir estudantes de diferentes origens e contextos sociais, contribui para a democratização da universidade. “Todos os dados mostram uma mudança profunda da FAAC, no sentido de ser mais parda, mais popular, mais pública, mais feminina. Desse caldo de diversidade vai surgir uma ruptura epistêmica do ponto de vista da criatividade. Isso porque quanto mais diverso é um determinado ambiente de criação teórica, conceitual ou prática, mais disruptivo ele se torna”, afirma Xavier. “Ao se tornar mais disruptivo, ele também se torna mais vanguardista. Então, tendo a crer que hoje nós estamos experimentando na FAAC um microcosmo, uma pequena experiência do que vai ser a diversidade ao longo deste século. E, oxalá, seja assim!”
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