Uma universidade pública forte é construída a partir da união entre pesquisa, ensino e extensão, pilares que a tornam um espaço de qualidade e com impacto na sociedade. A Faculdade de Ciências e Letras do câmpus de Araraquara é um exemplo de como o desenvolvimento desses três pilares pode beneficiar a sociedade, ajudando a planejar o futuro do município, formando profissionais e desenvolvendo projetos transformadores.
As patentes, por exemplo, são o resultado palpável dessa preocupação com a inovação, ao passo que também fortalece a reputação da instituição. A Faculdade de Ciências e Letras (FCLAr) é hoje a única das 34 unidades da Unesp que reúne ferramentas patenteadas na área de Ciências Humanas.
A unidade possui dois protótipos patenteados para auxílio no processo de avaliação escolar, provenientes do trabalho do professor Sebastião de Souza Lemes, do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, em parceria com o pesquisador André Silva. A primeira patente, intitulada 'Você está Pronto', diz respeito a uma plataforma digital de avaliação com base na criação de vasto banco de dados envolvendo questões de conteúdo para a educação básica.
A segunda é um aplicativo chamado 'Sonara', que complementa a primeira plataforma, ou seja, coleta e analisa dados de desempenho na escolarização básica. Atualmente, Lemes e Silva avançaram à fase de implementação de novas funcionalidades para a ferramenta, com o auxílio de inteligência artificial.
Criada em 1957 como um Instituto Isolado Superior do Estado de São Paulo, a FCLAr possui hoje área superior a 400 mil km². As edificações ocupam mais de 31 mil km² e servem a um total de 130 docentes, 147 técnico-administrativos e centenas de estudantes de graduação e pós-graduação que ingressam anualmente na instituição.
Atualmente, a unidade oferece cinco cursos de graduação: Administração Pública, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Letras e Pedagogia, que oferecem mais de 500 vagas anualmente. Na pós-graduação, são oferecidos seis programas reconhecidos pela Capes e o Ministério da Educação (MEC), além de um programa interunidades, compartilhado entre os câmpus de Araraquara e Assis. Juntos, os programas somam quase 4.200 defesas de trabalhos acadêmicos. Os cursos são: Linguística e Língua Portuguesa; Estudos Literários; Ciências Sociais; Educação Escolar; Educação Sexual; Economia; e Letras.
Corpo docente
A formação de qualidade dos professores tem sido um diferencial da faculdade ao longo das últimas décadas, pois gera impacto direto no ensino, na inovação acadêmica e na criação de um ambiente propício para o desenvolvimento de pesquisas e projetos de relevância.
"Nosso diferencial é a formação de qualidade dos nossos alunos, porque há aqui uma estrutura de ponta, professores de referência, portanto, condições muito próximas daquilo que é necessário para que os formandos consigam bons empregos no mercado. Na FCLAr, a capacidade de gerar capital humano de alta qualificação é fantástica", afirma o professor Cláudio Cesar Paiva, atual diretor da unidade.
A FCLAr é uma das principais referências do Brasil na produção de conteúdos para dicionários e livros didáticos para a rede básica de ensino. Para a vice-diretora, professora Márcia Cristina Argenti, essa liderança nacional tem relação direta com outra virtude da unidade, que é nunca abrir mão da excelência na formação teórica, especialmente nos conceitos clássicos.
Para a docente, essa formação permite ao aluno desenvolver o raciocínio crítico e criar a forma de ver o mundo a partir desse raciocínio. "Assim, ele acaba rompendo uma cobrança do mundo contemporâneo e pensa em cursos mais práticos, mais técnicos, em respostas mais imediatas. Essas ações consolidam uma formação que perdura no tempo, que caminha junto com a história da Unesp. E isso faz com que o ensino não fique isolado dos outros pilares da universidade", analisa a professora.
A formação de qualidade dos alunos pode ser confirmada pela absorção pelo mercado de trabalho local, no qual assumem, por exemplo, funções de coordenação e docência em colégios da rede municipal, ou pela aprovação em concursos públicos. Para Argenti, a polivalência dos estudantes ajuda a suprir uma parcela considerável da demanda no município. "Em termos de mercado, é visível a inserção dos nossos egressos no mercado de trabalho. Quando pensamos nos cursos de licenciatura, você consegue materializar isso nas listas de concursos públicos: são nossos alunos que preenchem a maioria dessas vagas. Esse diferencial é muito expressivo para nós", diz a professora.
Extensão alinhada à demanda local
Os projetos de extensão atuam na integração da universidade com a sociedade. Paiva é um nome de destaque na área de desenvolvimento municipal, pois coordena o 'Programa Araraquara 2050', que virou lei municipal em 2019 apoiada no objetivo de resgatar uma nova cidadania ativa e promover o planejamento de um município mais compacto e integrado. Em 2025, com base na agenda do desenvolvimento sustentável, a previsão é que a unidade universitária inaugure uma central em um dos bairros mais carentes de Araraquara para atender pessoas em condições de vulnerabilidade social.
"Todos os professores de qualquer área do conhecimento que quiserem desenvolver seus projetos no local poderão ter seus espaços, com contêineres de apoio, infraestrutura e equipe" explica o diretor. "Com a instalação do projeto, a demanda vai surgir exatamente na comunidade, ou seja, alinhado ao conceito de extensão propriamente dito, com imenso efeito transformador", afirma o docente.
A unidade já conta com um consolidado Centro de Pesquisas da Infância e da Adolescência (CENPE), fundado em 1977 por professores do Departamento de Psicologia da Educação preocupados com as constantes solicitações da comunidade, em especial pais e professores que buscavam orientação e atendimento para alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem e problemas no desenvolvimento. Em 2024, o CENPE realizou 4.553 atendimentos.
No horizonte da atual gestão da FCL, há também um projeto em trâmite para a criação de um núcleo local do 'Projeto Rondon', programa do governo federal que visa promover o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes. "A ideia é fazer um convite aos professores para alocar seus projetos para ter a chancela e toda a certificação do 'Projeto Rondon'. E temos na FCLAr o professor Roberto Carlos Miguel, do Departamento de Psicologia da Educação, como colaborador desse projeto. Ele está indo para a sua 25ª missão do Rondon e não há ninguém no Brasil com mais missões do que ele. Não há melhor pessoa para colaborar com essa iniciativa", diz Márcia Argenti.
A unidade oferece também dois projetos de extensão para atender à crescente demanda para o intercâmbio de línguas, voltados ao aprendizado e ao ensino de idiomas por meio da internet: o Teletandem, projeto de intercâmbio virtual em que alunos do exterior e da região de Araraquara interagem em atividades pelo computador; e a Rede de Apoio a Professores de Línguas Estrangeiras, que oferece materiais didáticos digitais destinados a professores de línguas estrangeiras.
Pesquisa e desafios
Em termos de pesquisa, atividade determinante para o desenvolvimento da unidade e para sua reputação na produção científica, é possível acessar no site da FCLAr uma listagem com todos os grupos de pesquisa, separados por departamento, que incluem diferentes investigações nos campos da Administração Pública, Ciências Sociais, Economia, Educação, Psicologia, Letras, Linguística e Literatura.
Responsável pelas únicas patentes da FCLAr, o professor Sebastião de Souza Lemes é líder de dois grupos: o Incubadora de Gestores: Formação de Lideranças Educacionais; e o Núcleo de Estudos em Avaliação, Tecnologia, Currículo e Política Pública (NATEC).
Na parte de infraestrutura, a unidade mantém equipamentos e laboratórios didáticos, salas adaptadas para reuniões por videoconferências, biblioteca com acervo de aproximadamente 100 mil volumes e um restaurante universitário recentemente reformado para atender à demanda diária de alunos e servidores. "Recentemente fizemos uma reforma no restaurante universitário e hoje ele funciona de forma impecável", diz o servidor João Luis Rigo Pereira, supervisor da Seção Técnica de Comunicações.
Para uma universidade que deseja manter-se no topo, os desafios para o futuro são multifacetados e complexos. "A legitimação vem do poder transformador da universidade pública. É necessário entender os movimentos sociais, políticos e econômicos que fortalecem a qualidade da universidade pública para que a FCLAr seja sempre protagonista do processo de transformação", argumenta o diretor Cláudio Paiva.
Para a vice-diretora, além de acompanhar a evolução e compreender esses movimentos, é necessário valorizar a história construída pela faculdade até aqui e estabelecer relações com a comunidade para continuar sendo uma boa referência para a vida das pessoas.
"Precisamos preservar e respeitar a memória da instituição, valorizar e consolidar os projetos existentes, as pessoas, os valores e, ao mesmo tempo, nos organizarmos coletivamente para ousar novos projetos e efetivá-los" afirma a professora Argenti. "É nosso objetivo fazer uma melhor articulação para unir as pessoas, os grupos de pesquisa, os projetos e chegar com mais afinco às comunidades."