Com a chegada do Dia das Mães, celebrado anualmente no segundo domingo de maio, cresce a reflexão sobre o papel da sociedade e especialmente das empresas, no cuidado com as mulheres que enfrentam a jornada da gestação. Para além das homenagens, o momento é propício para discutir a importância de ambientes corporativos mais empáticos, estruturados e preparados para acolher as demandas físicas e emocionais das gestantes.
Segundo o médico Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional e com vasta experiência na gestão de saúde corporativa, o cuidado com as colaboradoras grávidas deve ir muito além do cumprimento da legislação trabalhista. “Estamos falando de responsabilidade social, de compromisso com a vida. A gestação é um período de intensas transformações e exige um ambiente sensível, que atue de forma preventiva e acolhedora”, afirma. Uma das primeiras recomendações do especialista para garantir um ambiente corporativo seguro durante a gravidez é a realização de avaliações médicas periódicas, que considerem tanto as condições físicas quanto emocionais da gestante. De acordo com Bussacarini, cada gestação é única e deve ser acompanhada individualmente, com foco nos riscos ocupacionais específicos de cada função.
Aspectos como ergonomia, exposição a agentes nocivos e a exigência de longos períodos em pé ou sentada devem ser reavaliados com atenção. “Uma boa prática é adaptar o posto de trabalho com o apoio de um profissional de saúde ocupacional. Pequenas mudanças, como o ajuste da cadeira ou a realocação temporária para uma função administrativa, podem ter grande impacto na saúde da mãe e do bebê”, destaca.
Além dos cuidados físicos, o apoio emocional precisa ser estruturado dentro das políticas internas da empresa. Ambientes empáticos, onde a escuta ativa e o acolhimento são valorizados, promovem segurança psicológica, sentimento de pertencimento e, principalmente, ajudam a reduzir quadros de ansiedade e estresse durante a gestação. “Promover rodas de conversa, oferecer apoio psicológico e manter um canal de diálogo aberto com a gestante são ações simples, mas com potencial transformador”, completa o médico.
Outro ponto importante é a flexibilização da jornada de trabalho em casos clínicos específicos ou que envolvam complicações na gestação. O especialista afirma que a rigidez nos horários e rotinas pode agravar o quadro de saúde de muitas mulheres e provocar afastamentos que seriam evitáveis com uma abordagem mais flexível e humana.
Para que todas essas medidas sejam eficazes, no entanto, é necessário investir também na capacitação de lideranças e gestores. A forma como os líderes se comunicam com as gestantes, acolhem suas demandas e respondem a situações como ausências médicas, licença maternidade e retorno ao trabalho, faz toda a diferença. “A confiança é a base. Quando a gestante sente que pode expressar suas necessidades sem medo de julgamentos ou represálias, o vínculo com a empresa se fortalece. Isso é cultura de cuidado”, reforça.
Embora o cuidado com gestantes no ambiente de trabalho seja, antes de tudo, uma questão ética e humana, há também um lado estratégico. Estudos apontam que empresas que adotam práticas mais empáticas e inclusivas observam melhorias significativas no engajamento das equipes, redução nos índices de afastamento e aumento da produtividade. “Empresas que entendem que a saúde da mulher gestante exige cuidado contínuo colhem benefícios tangíveis no clima organizacional e na reputação como empregadora”, conclui o especialista. O Dia das Mães, neste contexto, pode servir como um chamado à ação para o mundo corporativo. Muito além de flores e mensagens comemorativas, é hora de olhar com mais atenção para as condições reais de trabalho das mulheres que geram vidas enquanto seguem contribuindo com seus talentos e competências.
Criar ambientes que respeitem e apoie a maternidade não é apenas uma escolha acertada, é uma necessidade urgente para construir um mercado de trabalho mais justo, saudável e igualitário para todas.