Entre as descobertas da medicina que podem beneficiar a todos —indistintamente— destaca-se a supressão da dor durante um procedimento cirúrgico. A anestesia geral é uma das estratégias usadas para esse fim, especialmente em cirurgias que requeiram relaxamento profundo por longo tempo.
Para levá-lo ao estado de inconsciência, o anestesista utiliza várias classes de medicações. As principais delas são os anestésicos intravenosos ou inalatórios, sedativos, analgésicos opioides e bloqueadores neuromusculares.
Eles garantem o sono (hipnose), aliviam a dor (analgesia), bloqueiam o corpo e mantêm a estabilidade dos sistemas orgânicos.
Os especialistas garantem que o perfil de segurança da anestesia é grande, e por isso ela não tem contraindicação absoluta. No entanto, é essencial que, antes da cirurgia, você seja avaliado pelo cirurgião e o anestesista para que eles conheçam suas condições de saúde.
Dados dos Estados Unidos indicam que a demanda por serviços cirúrgicos e por anestesia geral tende a aumentar em cerca de 3% ao ano na próxima década.
Um dos fatores associados a isso é o aumento da população idosa.
Em 2030, haverá mais idosos no Brasil do que crianças. Dados do IBG
Os efeitos no seu corpo
Embora não se possa afirmar que exista algum procedimento médico que seja 100% seguro, na hora da cirurgia, os anestesistas trabalham com uma série de verificações de segurança para reduzir a probabilidade de efeitos inesperados. E mesmo quando estes acontecem, os hospitais mantêm práticas preestabelecidas para proteger a sua saúde.
Além disso, os médicos dispõem de um arsenal de medicações que permitem escolher as que melhor atendem ao perfil de cada pessoa, considerando sua idade, estado de saúde, tipo de cirurgia, entre outros.
Dito isso, confira as reações esperadas após a administração de uma anestesia geral:
Você apaga literalmente
A perda da consciência e a contenção dos movimentos do corpo acontecem para que você não sinta dor nem desconforto durante o procedimento —e não se recorde dessa etapa do tratamento.
A anestesia pode ser aplicada pela via intravenosa ou inalatória.
Sob o efeito dela, algumas das funções do corpo funcionam em câmera lenta —e você ainda pode precisar de ajuda para respirar por meio de um ventilador mecânico.
Os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, outros sinais vitais e o funcionamento de todos os sistemas são constantemente monitorados pelo anestesista por meio de um aparelho.
O objetivo é garantir que eles estejam normais e estáveis durante todo o tempo em que você permanece "dormindo" (coma farmacológico) e sem dor.
Ao final do procedimento, a administração dos anestésicos cessará e o estado de inconsciência é revertido gradualmente, sob a devida supervisão médica.
Um ligeiro incômodo posterior pode aparecer.
A anestesia geral pode afetar a memória, a concentração e os reflexos por 1 ou 2 dias. E apesar das medidas preventivas já tomadas durante o procedimento, algumas pessoas podem apresentar alguns efeitos colaterais. A boa notícia é que eles não duram no tempo e são facilmente controláveis.
Náuseas e vômitos, tremor, tontura, dor de garganta (devido à possível intubação), hematomas, dor, retenção urinária e dor muscular são as possíveis manifestações.
Como esses efeitos são conhecidos pelos médicos, já antes da saída da sala cirúrgica os pacientes são medicados com analgésicos e medicamentos que previnem tais sintomas.
A literatura médica adverte que pacientes com idade avançada e pessoas com doenças graves submetidas a longas cirurgias têm maior risco de complicações, como persistência de estado de confusão e perda da memória, tromboembolismo, entre outros eventos.
Quem decide o tipo de anestesia.
Dado o avanço da medicina e da tecnologia, a anestesia geral é hoje considerada a rainha das anestesias pelo seu perfil de segurança e eficácia. Por isso, ela não possui contraindicação absoluta e ainda pode ser indicada para qualquer tipo de cirurgia.
Porém, antes do procedimento cirúrgico, o cirurgião e o anestesista precisam da sua colaboração para conhecer seu histórico de saúde. Isso porque algumas condições podem influenciar os efeitos buscados pela anestesia geral. Conheça algumas delas:
Alergia
Doenças crônicas sem controle (diabetes, hipertensão, etc.)
Doenças pulmonares (asma, DPOC, etc.)
Enfermidades renais
Convulsões
AVC (acidente vascular cerebral)
Uso abusivo de álcool e tabaco
Obesidade
A partir do acesso a todos esses dados, será possível decidir a melhor estratégia anestésica para você.
Por que o jejum importa?
Com o corpo anestesiado, reflexos que protegem a traqueia (como tossir ou vomitar) estão suprimidos. Assim, caso você esteja com o estômago cheio, o volume nele existente poderia voltar pelo esôfago, alcançando a traqueia.
Esse movimento pode ter como resultado o que os médicos chamam de broncoaspiração —a entrada desse conteúdo nas vias aéreas, obstruindo a região. Portanto, o jejum é uma medida de segurança para você.
Nos casos em que os pacientes são submetidos a esse tipo de anestesia em situações de emergência (portanto sem jejum prévio) os anestesistas utilizam uma técnica diferente —a intubação em sequência rápida— que reduz a probabilidade dessa ocorrência.
Posso acordar no meio da cirurgia?
Como os hospitais seguem protocolos rígidos de segurança no uso da anestesia geral, é raro que um quadro como esse possa acontecer.
A Sociedade Americana de Anestesiologistas esclarece que alguns pacientes relatam lembranças de sons ou eventos durante a cirurgia, mas geralmente eles não lembram da dor. Isso pode ocorrer com cerca de 2 pacientes a cada mil procedimentos.
Tal circunstância é mais frequente entre pacientes com várias comorbidades. Muitas vezes, nessas situações, não é possível utilizar a dose usual de anestésicos com segurança, principalmente quando a cirurgia é de emergência.
Já durante cirurgias programadas (eletivas) o paciente passou por avaliação médica prévia e será monitorado o tempo todo pelo anestesista por meio de um aparelho de precisão. Essas medidas ajudam a verificar as condições de relaxamento e, caso seja necessário, podem ser feitos ajustes na medicação.
O que fazer para driblar o medo de anestesia
A sugestão dos especialistas consultados é que você fale abertamente com o cirurgião e o anestesista sobre seus receios para que eles expliquem claramente como será o procedimento cirúrgico, quais são os possíveis riscos no seu caso e como a equipe médica na sala operatória trabalhará para garantir a sua segurança.
Lembre-se, a anestesia geral permite que sejam realizadas cirurgias que salvam vidas e trazem de volta a qualidade de vida.
É importante que você também colabore com a equipe, por exemplo usando seus medicamentos de forma correta, abstendo-se do uso de álcool e tabaco, e seguindo as orientações médicas.
A Resolução nº 2174/2017, do CFM (Conselho Federal de Medicina) regula o direito de o paciente ser avaliado pelo anestesista antes de qualquer procedimento —seja por meio de uma visita pré-anestésica, seja no ambulatório em uma consulta pré-anestésica.