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Brasileiro é vítima de tráfico humano e trabalho escravo por ‘fábrica de golpes financeiros’ em Mianmar

31/10/2024 às 14h32 Atualizada em 31/10/2024 às 20h05
Por: Redação Fonte: www.terra.com.br
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Enquanto você lê este texto, o brasileiro Luckas Viana dos Santos está sendo mantido escravo em uma fábrica de golpes virtuais na fronteira de Mianmar com a Tailândia, na Ásia. Parece uma história de filme, mas é real: o Intercept Brasil teve acesso a mensagens enviadas pelo brasileiro a amigos e confirmou que o Ministério das Relações Exteriores acompanha o caso.

A ONU estima que centenas de milhares de pessoas sejam mantidas em condições análogas à escravidão após terem sido traficadas na região da  Tailândia, Mianmar e Camboja. O trabalho consiste em aplicar golpes virtuais internacionalmente, em escala massiva, sob a mira de homens armados.

O pesadelo do brasileiro que caiu no esquema começou no início de outubro. Santos buscava um novo trabalho na Ásia após ter sido demitido da área de atendimento ao cliente em plataformas de apostas nas Filipinas.

Ele decidiu, então, postar que procurava emprego em um grupo no Telegram focado em vagas de trabalho na região. Logo conseguiu duas entrevistas. Em uma delas, para uma vaga em atendimento ao cliente em aplicativos de relacionamento, recebeu uma proposta que considerou interessante: salário de US$ 1,5 mil – aproximadamente R$ 8,5 mil – além de moradia no local para um contrato de seis meses.

A empresa tinha sede em Mae Sot, uma cidade no oeste da Tailândia que faz fronteira com Mianmar. Ficou acordado que, em 7 de outubro, um representante da empresa buscaria Santos, de 31 anos, em Bangkok para a viagem de seis horas.

No percurso, porém, ele percebeu que algo poderia estar errado. E avisou pelo Telegram o amigo Caio*, que vive na Ásia e também trabalha com plataformas online. “No meio do nada, entramos numa selva, pegamos um barco e tenho que esperar mais um carro”, disse Santos em mensagens às quais o Intercept Brasil teve acesso.

“Parece tráfico”, acrescentou, com uma risada. Àquela altura, ele já havia trocado de carro três vezes e compartilhado sua localização com o amigo por temer pela sua segurança.

Caio contou ao Intercept que recebeu mais algumas mensagens de Santos em que ele dizia já estar em Mianmar — a certeza veio após ter visto que as placas na estrada estavam em birmanês, a língua oficial do país. A mensagem seguinte dizia apenas uma frase: “chama a polícia”.

Santos voltou a se comunicar 30 minutos depois. Disse que estava tentando resolver a situação, mas que havia muitas pessoas armadas. Pediu ao amigo para que ele não chamasse a polícia porque podiam matá-lo.

Desde então, Caio recebe mensagens esporádicas do amigo, sempre de números novos de Telegram e com pedidos para que ele não responda. A última localização que Santos compartilhou mostrou que ele estava em Kyaukhat, uma cidade em Mianmar na fronteira com a Tailândia, a 33 quilômetros de Mae Sot.

A região da tríplice fronteira entre Tailândia, Mianmar e Camboja é justamente o epicentro dos “complexos” ou “fábricas de golpes”. Em agosto de 2023, a ONU estimou que, só em Mianmar, cerca de 120 mil pessoas estariam sendo mantidas em condições análogas à escravidão após terem sido traficadas. No Camboja, haveriam mais 100 mil.

As fábricas de golpes são operadas por grupos de crime organizado transnacionais. Na prática, funciona assim: pela internet, pessoas são ludibriadas a acreditar que estão sendo contratadas para trabalhos legítimos e, então, acabam traficadas para estes complexos, onde são mantidas sob abusos e condições desumanas.

As vítimas são obrigadas a aplicar golpes pela internet, frequentemente tendo como suas vítimas pessoas que estão a milhares de quilômetros, em países como os Estados Unidos.

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