O universo dos carros antigos não para de impressionar quando o assunto são os preços extremamente altos que alguns volta e meia alcançam no mercado.
O Volkswagen Fusca, que já foi sinônimo de veículo popular no Brasil e ainda é um dos automóveis mais vendidos na história do país, é um bom exemplo dessa realidade.
Um exemplar de 1952, do conhecido como Split Window, tem passado por uma valorização gigantesca nos últimos anos: foi vendido no primeiro semestre de 2022 por R$ 450 mil; no ano seguinte, foi revendido por R$ 800 mil; hoje, está avaliado em mais de R$ 1 milhão.
Trata-se de um incremento no preço que poucos investimentos conseguem igualar.
Conversamos com Alex Fabiano, da GG World Classic Cars, a empresa especializada em automóveis antigos que intermediou a venda nas duas últimas ocasiões.
O comerciante compartilhou com esta coluna detalhes que ajudam a explicar por que o Split Window é um "Santo Graal" entre os Fuscas, tão cobiçado por colecionadores.
De acordo com Fabiano, a originalidade e o bom estado do Fusca verde que é tema desta reportagem têm contribuído para tamanha valorização.
. "É um carro 'matching numbers', o que significa que possui todas as peças originais, inclusive motor e câmbio com números de série que são os mesmos dos registros de fábrica. A originalidade é um dos fatores que mais valorizam carros clássicos. Cada peça que permanece inalterada se torna uma raridade e é isso que atrai os colecionadores", diz o empresário.
Outro detalhe que ele destaca é a procedência única do modelo, importado oficialmente pela Brasmotor, que na época trazia veículos estrangeiros para o Brasil.
Conforme Alex, esse Fusca específico chegou ao país antes de a Volkswagen iniciar a montagem nacional do sedã, ainda com peças importadas, em 1953, em um galpão no bairro do Ipiranga, na capital paulista.- esse detalhe torna o modelo ainda mais especial.
"Ele foi restaurado ao mais alto nível, mantendo até mesmo a chave reserva e o manual original. Esse grau de preservação é praticamente impossível de se encontrar hoje em dia", comenta Fabiano.
O "Santo Graal" dos carros antigos.
O Fusca é, sem dúvida, um ícone da cultura automobilística brasileira, mas poucos exemplares atingem status de relíquia como o modelo 1952 Split Window.
"Na minha visão, esse Fusca vai acabar custando mais caro do que um Porsche 356 pós-guerra", afirma Fabiano.
Ele explica que, enquanto muitos Porsche da época foram preservados como itens de luxo, o Fusca, criado como carro utilitário e acessível, passou por anos de uso intenso, o que contribuiu para a escassez dos modelos em bom estado de conservação.
Outros exemplares do Fusca têm valor elevado no mercado. Um exemplo é o Fusca Oval, fabricado a partir de 1954, que pode alcançar cifras próximas dos R$ 300 mil, dependendo da originalidade e condições.
No outro extremo da linha, está o Fusca Itamar Ouro de 1996, o último fabricado no Brasil, que possui um valor histórico e sentimental especial para colecionadores.
O crescimento da valorização do Fusca reflete, em parte, o interesse dos brasileiros em preservar sua própria história automotiva e Fabiano acredita que os preços continuarão subindo, principalmente para os modelos mais icônicos e raros.
Carro antigo vira investimento
Para além da nostalgia, os carros clássicos vêm se consolidando como investimentos com retornos atraentes e, muitas vezes, mais seguros.
Fabiano explica que o mercado internacional tem um papel central na valorização desses veículos.
"Se você tentar importar um Split Window 1952 da Alemanha, vai pagar mais de R$ 2 milhões com as taxas de importação. Isso cria um diferencial para os exemplares que já estão no Brasil e acabam atraindo investidores locais e internacionais."
Esse fenômeno não se limita ao Fusca 1952.
Modelos icônicos como Volkswagen GTI e o Dodge Charger RT também tiveram valorizações significativas nos últimos anos, chegando a custar até R$ 600 mil
"Há 30 anos, ninguém dava valor para esses carros. Hoje, eles são tratados como obras de arte", destaca Fabiano.
Esses veículos passaram a participar de leilões internacionais e concursos, onde um carro de procedência impecável e com restauração de alto nível pode ser premiado e aumentar ainda mais seu valor.
O mercado de carros antigos no Brasil
O Brasil, que por décadas esteve fora dos holofotes do mercado de clássicos, vê hoje uma expansão significativa na comercialização e valorização de carros antigos.
O mercado brasileiro cresceu a ponto de formar um nicho sólido, movimentando grandes valores e profissionalizando-se rapidamente.
Segundo Fabiano, este cenário se deve a um misto de fatores, incluindo o crescente interesse em preservação histórica.
"Hoje, muita gente vê um carro antigo como um investimento sólido, um bem que valoriza ao longo dos anos e que traz um retorno interessante", explica.
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