A odontologia em oncologia é destinada a pacientes em tratamento de câncer ou já tratados do câncer. A prevenção e o diagnóstico do câncer de boca também estão relacionados com a odontologia em oncologia. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 704 mil novos casos de câncer por ano no triênio 2023–2025, e 15.100 casos de câncer de boca e orofaringe por ano neste mesmo triênio. O câncer de pele não melanoma tem a maior prevalência, 31,3%, depois o de mama feminina com 10,5%, seguido do de próstata com 10,2%, cólon e reto 6,5%, pulmão 4,6% e estômago 3,1%. A saúde bucal pode ser afetada pelo tratamento do câncer, independente do tipo de câncer acometido.
O presidente da Câmara Técnica de Estomatologia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Fábio Alves, explicou sobre os principais cuidados envolvendo esses pacientes. Os cirurgiões-dentistas devem ter conhecimento da fase e tipo de tratamento oncológico em que o paciente se encontra ou se já finalizou seu tratamento. O tratamento odontológico pode ser realizado sem risco, em pacientes que fizeram ou estão realizando radioterapia, onde o campo irradiado não envolve áreas da mandíbula e/ou maxila.
“Esses pacientes podem ser submetidos a qualquer tipo de procedimento odontológico, pois a radioterapia em outras regiões do corpo não acarreta repercussões específicas na cavidade oral, dispensando cuidados adicionais”, pontua o especialista.
Contudo, pacientes nos quais o câncer envolve a região da cabeça e pescoço e receberam radioterapia, o cirurgião-dentista precisa evitar procedimentos clínicos invasivos que envolvam os tecidos ósseos. Exodontias e implantes devem ser evitados nestes pacientes. Importante ressaltar que mesmo depois de muitos anos ainda existe risco de osteorradionecrose (necrose/morte do tecido ósseo).
Também no caso de pacientes que realizaram radioterapia em decorrência do câncer bucal, devem ser avaliados com cautela. Nesses casos, os procedimentos de restauração e limpeza dental podem ser conduzidos normalmente.
Dr. Fábio salienta sobre como o cirurgião-dentista pode ser essencial nos cuidados na região bucal em indivíduos em tratamento de câncer, visto que a saúde bucal é essencial e algumas lesões podem surgir neste período, sendo a mucosite (inflamação da mucosa bucal) a mais frequente. Dessa forma, é necessário promover a prevenção desta alteração.
“Todos os pacientes que irão iniciar tratamento para câncer bucal ou que serão submetidos ao transplante de medula óssea, devem passar por uma avaliação odontológica prévia. Isso visa melhorar a saúde bucal, fornecer orientações sobre higiene oral e eliminar possíveis focos de infecção na boca”, enfatiza o cirurgião-dentista.
O especialista expõe que os pacientes oncológicos podem ter alterações orais em decorrência da própria doença, como também dos tratamentos de quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea que possam a vir realizar.
As alterações orais podem incluir: mucosite oral, xerostomia, cáries de radiação, alteração do paladar e osteonecrose dos maxilares.
Mucosite oral
Causa: radioterapia e quimioterapia
Inflamação dolorosa da mucosa oral que pode variar de leve vermelhidão a ulcerações graves. Pode afetar a alimentação, fala e qualidade de vida, além de ser uma porta de entrada para infecções.
Xerostomia ou boca seca
Causa: radioterapia
Sensação de boca seca que pode ser causada pela redução na produção de saliva ou da qualidade da saliva. Radioterapia na região da cabeça e pescoço pode danificar as glândulas salivares, reduzindo sua função. A boca seca favorece o aparecimento de cáries, infecções como candidíase, e dificulta a mastigação e deglutição.
Cáries de radiação
Causa: radioterapia
Cáries que ocorrem após radioterapia na região da cabeça e pescoço, afetando principalmente a superfície cervical dos dentes. A falta de saliva, juntamente com mudanças na composição salivar e nos hábitos alimentares, favorece o desenvolvimento de cáries de forma acelerada.
Infecções oportunistas
Causa: quimioterapia
Infecções por fungos (candidíase) e virais (Herpes) são as mais frequentes. A imunossupressão causada pela quimioterapia e transplantes de medula óssea aumenta a suscetibilidade a infecções orais.
Disgeusia
Causa: quimioterapia ou radioterapia
Alteração ou perda do sentido do paladar. Comum durante a quimioterapia e radioterapia na região da cabeça e pescoço. Pode diminuir o apetite e levar à desnutrição, além de comprometer a qualidade de vida.
Osteonecrose dos maxilares
Causa: radioterapia
Morte do tecido ósseo da mandíbula ou maxilar. Está relacionada à radioterapia na cabeça e pescoço.. Pode causar dor severa, infecções e fraturas ósseas, dificultando o tratamento.
Osteonecrose associada a medicamentos
Causa: Medicamentos anti-reabsortivos (Denosumabe e Ácido zoledrônico)
Pacientes usando essas drogas devem ter cuidados com procedimentos cirúrgicos que envolvam a mandíbula e maxila. Demais tratamentos odontológicos não trazem riscos para seu desenvolvimento.
“Nós cirurgiões-dentistas auxiliamos no diagnóstico e controle das alterações na região bucal. Pacientes com a boca saudável suportam melhor o tratamento e apresentam menos riscos de interrupção do tratamento oncológico”, finaliza o Dr. Fábio Alves.
Sobre o CROSP
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente.
Hoje, o CROSP conta com mais de 175 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.
Mais informações:
www.crosp.org.br
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