Seguem as queimadas pelo Brasil, tendo, desta vez, o estado de São Paulo como um dos principais locais com focos de incêndios. Queimam pastos, matas, colheitas. Queimam a nobre matéria orgânica que está por cima e por baixo da terra. Queimam tudo, queimam animais, propriedades, casas, parques. As pessoas estão morrendo por sufocamento, pois o ar ficou irrespirável. As comparações com as cenas distópicas da ficção científica são bem reais.
No filme Interestelar, de 2014, dirigido por Christopher Nolan, o mundo está dominado por tempestades de areia e a agricultura vai mal porque pragas que se alimentam exclusivamente do nitrogênio do ar se desenvolvem muito mais rápido do que os tradicionais cultivares. Os programas espaciais foram supostamente abandonados para que a tecnologia fosse aplicada exclusivamente nas fazendas em que o pó estava por toda parte. A solução do filme de ficção científica é buscar outro mundo para viver ou levar todos para o espaço, mas a gravidade não colabora. Na busca conjunta por novos planetas habitáveis e solução para o problema da gravidade desenrola-se a estória. Um excelente filme.
A gravidade da situação atual não requer soluções mirabolantes. Bastaria fazermos uma conta de armazém e ver que queimar biomassa sem controle é jogar dinheiro fora e fumaça para dentro dos pulmões. Nós que temos boa parte da balança comercial baseada na agricultura deveríamos ser os primeiros a preservar floresta e coibir qualquer queimada nos campos. Mas parece que os mesmos mandantes dos crimes em Brasília no início do ano passado – e que também mandaram parar os caminhoneiros meses antes – são os que incentivam e pagam para atearem fogo em todo lugar. Ações sincronizadas e algumas até documentadas. Nada disso impede o crime que nos sufoca e está dando enorme prejuízo ao país.
O agronegócio é um processo cíclico em que matéria é transferida de lugar, movida pela energia solar. Não apenas o gás carbônico é o combustível para a fotossíntese, mas também a água faz parte do processo. Queimar floresta é mudar o ciclo hidrológico, alterando os rios atmosféricos, como estamos vendo e sentindo neste inverno, que é dos mais quentes e mais secos da história. O lindo pôr do Sol a que assistimos carrega a angústia da quantidade de material particulado que está no ar. Desperdício de energia e de saúde.