Queixo retraído, rugas no canto da boca ('sorriso invertido'), ao redor dos lábios ('código de barra") ou o sorriso que sobe mais de um lado que de outro. Essas são algumas queixas de pessoas que procuram por harmonização facial/orofacial e demais procedimentos estéticos.
No entanto, assimetria facial e marcas de expressão podem não ser apenas uma questão de desarmonia e, sim, sinais de problemas como perda óssea na região da boca, diminuição no tamanho dos dentes, disfunção na mordida e mal posicionamento dentário.
Marcelo Kyrillos, cirurgião-dentista do Ateliê Oral, explica que a correção de um problema odontológico antes da harmonização facial pode ser um fator decisivo para a realização de intervenções ou menor escala delas. "Quando corrigimos o tamanho dos dentes ou a mordida, o rosto já ganha uma nova estrutura, e os pacientes já percebem uma mudança. Após recuperar o que esse paciente perdeu, aí sim, pode haver o refinamento estético", explica.
"O que vemos por aí são muitos resultados com uma certa deformação, fora da naturalidade. O exagero acontece muito pelo fato desses casos não terem sido tratados de dentro para fora da boca. É crucial verificar se há uma questão ortodôntica a ser corrigida antes da intervenção externa. O dentista pode fazer essa avaliação pelo domínio da anatomia da cabeça e pescoço, e das variações anatômicas da face, sejam artérias, veias, musculatura e discrepância esquelética (bases ósseas)", alerta.
O especialista fala com base no reconhecimento em 2019, pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), da harmonização orofacial como uma especialidade da odontologia responsável por buscar o equilíbrio entre a relação estética e funcional do rosto e do sorriso para corrigir assimetrias e algumas proporções faciais.
Olheiras podem ser sinais de desgaste dos dentes
Com o avanço da idade aparecem as rugas no canto da boca, passando aquela imagem de 'sorriso invertido'. Também acontecem a retração dos lábios superior e inferior, dando origem às rugas periorais, conhecidas como 'código de barra'. Segundo o especialista, o desgaste dos dentes e a perda óssea naturais do corpo podem desencadear esses problemas. "Com o passar dos anos, não recebemos o mesmo suporte labial de osso e de dente. É como se houvesse um derretimento da face", detalha.
O que pouca gente sabe é que as olheiras também estão relacionadas à perda desse suporte. Isso acontece devido à força feita na hora de morder para selar os lábios. O cirurgião-dentista explica que a recuperação da altura da mordida fornece o suporte para esses tecidos. "A harmonização facial pode suavizar as marcas, porém, a parte dentária já é uma solução na maioria dos casos", frisa.
O especialista também traz um alerta para a necessidade de cirurgia em situações mais complexas, como nos casos de retração de queixo. Ao invés de tratar esteticamente com preenchimento de queixo até uma proporção considerada ideal, ele recomenda avaliar a possiblidade de uma intervenção cirúrgica (a cirurgia ortognática). "O queixo para dentro, por exemplo, é um caso de crescimento inadequado dos ossos. Então, é preciso consertar. Imagine uma armação de circo: armando a lona, assume-se uma nova forma. Isso é absolutamente natural, porque é o rosto da pessoa. Antes de qualquer procedimento estético, é preciso ter a estrutura óssea e a funcionalidade dos sistemas que compõem o nosso corpo como ponto de partida. A saúde e a função precisam vir sempre em primeiro lugar. A estética precisa ser enxergada como uma aliada", enfatiza.
Kyrillos explica ainda a importância dessas intervenções serem realizadas com o acompanhamento de diferentes profissionais. "Nessas regiões há tecidos duros e moles, que são do domínio do cirurgião-dentista, do dermatologista e do cirurgião-plástico, por exemplo, em suas diferentes áreas de conhecimento. Isso porque há um risco grande em manipular materiais injetáveis e perfurantes nesses tecidos. Não são poucos os casos de pacientes que voltam para a casa após o procedimento e, dias depois, sentem dores e outros sintomas. Quando se dão conta, o edema, por não ter sido tratado corretamente, se tornou uma necrose. Se não houver um acompanhamento integrado, o risco para o paciente é alto", completa.